Maria Luiza conta a história da militar transexual e será apresentado no festival É tudo verdade
Dirigido por Marcelo Díaz, o documentário de 80 minutos recupera a memória da militar, que por 22 anos exerceu trabalho nas Forças Armadas, até ser aposentada por invalidez. Em vez de vestir a farda feminina, ela serviu junto aos homens, fato investigado em cena. Díaz ganhou notoriedade por realizar documentários sobre personagens da cidade, como o artista plástico Galeno e o mecânico José Perdiz, que transformou sua oficina em teatro.
Maria Luiza nasceu José Carlos, em Ceres (GO), mas nunca se reconheceu homem, o que lhe trouxe enormes transtornos na carreira militar. Em 2000, quando era cabo da Aeronáutica, veio o parecer do Alto Comando, que a diagnosticou como transexual, ;incapaz, definitivamente, para o serviço militar;, mas ;não inválido, incapacitado total ou permanentemente para qualquer trabalho;.
À época, ela, com o nome masculino, servia na Base Aérea de Brasília, onde era mecânico de aeronaves. A decisão do comando culminou na aposentadoria (reforma, na linguagem militar) a contragosto, com metade do salário (o soldo). Acuada, sob ameaça para não tornar a decisão pública, pediu ajuda ao Ministério Público do DF.
O promotor Diaulas Ribeiro, da Promotoria de Defesa dos Usuários de Saúde (Pró-Vida), comprou a briga. Em meio à guerra judicial, em 2005, ela passou por cirurgia de mudança de sexo. Dois anos depois, a juíza Lília Simone Rodrigues da Costa Viera, da 1; Vara de Família do Tribunal de Justiça do DF, deu a sentença que reconheceu o direito de Maria Luiza ; nome escolhido antes da cirurgia ; pertencer ao sexo feminino.
O juiz José Batista Gonçalves da Silva, da Vara de Registros Públicos do DF, acolheu a manifestação do MPDFT e determinou a alteração do nome e a averbação à margem do assento de nascimento. Maria Luiza tinha uma nova certidão. Em 2010, outra grande conquista: o juiz Hamilton de Sá Dantas, da 21; Vara Federal, mandou a Aeronáutica reintegrar Maria Luiza. Mesmo que na reserva, com soldo igual aos militares nunca reformados.
A cabo, porém, não voltou à ativa, em função da idade. Completou 49 anos. O tempo de serviço, 30 anos adotados nas Forças Armadas, já havia transcorrido. Por fim, a Aeronáutica recorreu ao STJ. No ano passado, aos 56 anos de idade, ela ainda lutava para voltar de onde a expulsaram por causa do gênero: a Aeronáutica.
Em 2000, o Correio narrou o drama da militar com exclusividade, com reportagens escritas pelo jornalista Marcelo Abreu. A primeira matéria acabou se tornando uma série de reportagens, resultando em uma leva de cartas de apoio dos leitores a Maria Luiza.
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